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Monocelha discreta

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Na última quarta-feira estava assistindo, tarde da noite, o jogo entre New Orleans Hornets e Golden State Warriors. O time de Oakland sofreu com o problema de faltas de Stephen Curry e não pode correr como gosta com Jarret Jack armando o time durante quase o jogo inteiro, mas mesmo assim venceu com alguma tranquilidade. Principalmente porque David Lee dominou o garrafão com 23 pontos e 16 rebotes.

O domínio de Lee, que jogou, por incrível que pareça, bem até na defesa, me marcou porque estava esperando uma grande partida de Anthony Davis, primeira escolha do Draft 2012. Ao invés disso, o monocelha saiu de quadra com míseros 6 pontos (2/11 arremessos), 9 rebotes e um toco. O toco, pelo menos, foi lindo, em uma tentativa de enterrada de Andrew Bogut. Mas o domínio de Lee sobre Davis, teoricamente um especialista em defesa, me fez pensar na primeira temporada do novato do Hornets.

Anthony_Davis

Nos números, uma temporada competente-mas-não-espetacular: médias de 13.2 pontos, 8.7 rebotes ,1.7 toco e apenas 1.4 turnovers por partida. Mas o número que me surpreende mesmo é o de apenas 28 minutos e 10 arremessos tentados por partida. O comum é o novato que chegou na primeira escolha do Draft acabar em um time ruim e lá ter toda liberdade para passar muito tempo em quadra, forçando arremessos, cometendo erros e sendo exposto a qualquer tipo de situação que possa ser usada como aprendizado. Como já disse Chandler Parsons naqueles divertidos vídeos sobre os novatos que a NBA produz, “é o único ano da sua carreira onde você pode errar à vontade”.

Lembro aqui o caso do Seattle Sonics de 2007-08. Era um time fraco, mas com dois novatos badalados, Kevin Durant e Jeff Green. Durant jogava 35 minutos por partida, tentava 17 arremessos e tinha liberdade para fazer o que quiser. Green jogava menos, os mesmos 28 minutos de Davis, mas quando jogava era sempre atirado aos leões. Lembro de quando ele marcou Kobe Bryant durante um jogo inteiro e tomou 48 pontos na fuça. Eles perderam, mas Green cresceu desde então.

Outros exemplos: Kyrie Irving quando novato jogava só 30 minutos, mas com 15 arremessos tentados e um Usage Rate (número que mede quantas jogadas passam ou acabam nas mãos de um jogador) de 28%, Davis tem 21%. Em um caso mais extremo, John Wall, outra primeira escolha recente, jogava 37 minutos por partida em seu primeiro ano de NBA.

Então não é tanto que Anthony Davis esteja jogando mal em geral, ele tem dias ruins onde é engolido por caras como o David Lee, mas não é sempre. O ponto é que sua temporada tem sido excessivamente discreta. Ele divide minutos demais com caras mais ou menos como Robin Lopez e Ryan Anderson e é hoje a 4ª opção ofensiva, atrás do próprio Anderson, Eric Gordon e Greivis Vásquez. E até na defesa ele é pouco agressivo, entendo que seu estilo de defesa é finesse, focado no bom posicionamento, mas cometer só 2.4 faltas por jogo parece pouco. Não que eu defenda a porrada gratuita, mas por que não se arriscar mais? Por que não correr mais atrás de tocos, cavar faltas de ataque ou tentar aparecer mais na cobertura? Se chegar tarde e acertar a cara de alguém, paciência. Simplesmente não faz sentido ser tão prudente e ter essa mentalidade de role player em um time jovem que tem uma das piores campanhas da NBA.

Anthony Davis

Outra número surpreendente é a quantidade de jogadas de post-up de Davis na temporada. O post-up é a clássica jogada de pivôs, de costas para a cesta. O monocelha só arremessou nessa situação em 44 vezes durante seus 60 jogos na temporada! Apenas 5% de seus lances.  E pior, só acertou 8 dessas tentativas. Ele tentou bem mais arremessos (94) em situações de spot-up, que é a jogada quando um jogador apenas recebe a bola, parado, e arremessa. Em termos de arremessos tentados ele está mais para um arremessador do que para um pivô, e ainda com péssimo aproveitamento nas duas jogadas: 24% em post-up, 34% em spot-up. Aproveitamento decente apenas no pick-and-roll, onde fez 54% de seus 148 arremessos na temporada.

No começo achava que boa parte da culpa disso era do técnico Monty Williams, que parecia confiante numa boa campanha no começo da temporada e que não estava disposto a arriscar, dando preferência para jogadores um pouco mais rodados como Eric Gordon e Greivis Vásquez. Mas vendo os jogos com mais frequência fui percebendo que Anthony Davis é mesmo assim, contido. Dificilmente improvisa, tira proveito de matchups favoráveis ou se arrisca em jogadas difíceis. Em geral algumas dessas coisas poderiam até ser qualidades, Tim Duncan não é assim tão diferente, mas será que ele não está no momento de se jogar na NBA e ver no que dá? Não é como se Davis começasse sua carreira ao lado de David Robinson, afinal.

Ele completou 20 anos de idade outro dia então não vou fechar uma opinião sobre ele até daqui, sei lá, sua próxima extensão de contrato, mas é algo para se ficar de olho. Será que durante a offseason ele trabalha no seu jogo de costas para a cesta? Ele poderia ser o 1000º jogador a contratar o Hakeem Olajuwon para isso. E será que alguém o convence a ser mais agressivo e participativo em um time tão fraco? O novato Damian Lillard roubou toda a cena entre os pirralhos do Draft 2012, mas não podemos esquecer de Anthony Davis. Ficaremos de olho na monocelha.


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